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sexta-feira, outubro 28, 2005

A nossa bagagem preconceptual

Conhecer muitas nacionalidades diferentes é, essencialmente, um processo de eliminação de ideias erróneas. A nossa bagagem preconceptual é enormíssima, muito maior do que poderíamos concluir apenas introspectivamente. Não posso, contudo, ser naife ao ponto de retirar todo o valor ao preconceito: ele tem um papel inegável enquanto heurística, ajuda-nos a não redescobrir a roda ad infinitum. Mas como identificar o limiar entre a heurística e a preguiça mental? Impressiona-me a facilidade com que agimos com uma legitimidade 100 por cento baseada em opiniões de outrém, que com o tempo absorvemos e se tornaram nossas. Isto sem o serem realmente, pois não têm origem na nossa percepção directa do mundo que nos rodeia. Muitas vezes são opiniões sobre as quais nem chegámos alguma vez a reflectir: aceitámo-las assim que tomámos contacto com elas e – pior! – nem nos apercebemos disso. Que perigosa ingenuidade!

Assim deduzo que, para compreender realmente as coisas, precisamos de estar completamente alheios a tudo. Quando assim não é estamos sempre à espera de algo, o que acaba invariavelmente por alterar o significado da coisa em si. Até quando não estamos à espera de nada, a surpresa por si só já tem algo de expectativa.

Para mal dos nossos pecados, parece-me que é quase impossível este alheamento. Se for possível roçará sempre o anarquismo, ou a indiferença, ou o autismo cultural.

Resta apenas contentarmo-nos com uma tomada de consciência deste processo?

Bastará?